De olho em um mercado de carne diferenciado, alguns produtores apostam na precocidade do gado para agregar valor ao produto.
Dono de um rebanho com 800 animais da raça Aberdeen-Angus, o pecuarista José Leandro Peres está satisfeito com o rumo que deu para a atividade na fazenda em Nova Guarita, região Oeste de Mato Grosso. “Você deixa de vender uma carcaça para vender carne, isso faz com que o frigorifico ou a boutique de carne consiga vender a carne por peça, explorando de acordo com a qualidade dessa peça, então começamos a sair fora daquele sistema de carne de primeira, carne de segunda, tudo vira carne", destaca.
O manejo para o abate precoce é diferente do adotado no ciclo completo – com cria, recria e engorda no pasto. No sistema tradicional, são necessários entre 30 e 40 meses para que o animal fique pronto para ir ao frigorífico, pesando em média 20 arrobas. Já no modelo precoce, os animais vão bem mais cedo e mais leves para o abate: pesando de 12 a 17 arrobas, com apenas 16 meses de idade. Para isso, começam a receber suplementação alimentar ainda na desmama.
O produtor explica que com 60 dias de idade, esses animais começam a receber uma adição de ração e suplemento mineral, onde consegue-se fazer a desmama com 200 quilos. Com nove meses, quando são separados das mães, os bezerros são colocados no pasto, onde ficam por 90 dias recebendo adição de ração.
Quando os animais chegam para o confinamento, no final de todo o processo de engorda, a dieta é de 9 kg de alimento por dia. Essa quantidade pode chegar a até 20 kg nos próximos dias do abate.
No fim das contas, cada bezerro gera uma despesa de aproximadamente R$ 1,350 durante o tempo que permanece na fazenda. Quando deixa a propriedade, é negociado por R$ 2,3 mil cada.
“Nesse processo de nascimento, desmama, integração e confinamento, você abate animal com 17@, e se for fazer comparação com animal de pecuária extensiva com 30 a 36 meses, com as mesmas 17@ conseguimos fazer nesses 30 a 36 meses quase 34 arrobas, o dobro", analisa.
Um frigorífico em Sinop, norte do Estado, abate cerca de 500 animais por dia. Quase metade são precoces. A seleção começa ainda no curral, onde o rebanho é separado por idade.
Na desossa, a diferença entre as carnes fica mais evidente. De acordo com o veterinário do frigorífico, Jaderson Ananias, Os animais precoces têm uma gordura mais branca que o animal a pasto, que tem uma gordura mais amarelada. “Por ser uma carne mais macia, também vai ser mais saborosa, o que vai dar o sabor da carne é a gordura, um sabor agradável ao consumidor”, afirma.
A diferença no preço do frigorífico chega a 40%. “É um mercado em expansão porque aumentou o consumidor que quer qualidade", diz o veterinário.
A produção de carne precoce do frigorífico abastece o mercado interno e já tem destino certo. Demanda não falta, mas na outra ponta, está difícil encontrar mais fornecedores da matéria prima.
Ananias afirma que a procura é feita cada vez mais longe do frigorífico. "E assim o produtor esta se profissionalizando, investindo em genética e aperfeiçoando seu rebanho", conclui. |